Goiás pode já ter 17,5 mil mortes por coronavírus, em vez das atuais 16,2 mil informadas nas estatísticas oficiais. Isso porque levantamento da própria Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) revela que só em 2021, até 10 de maio, havia 1,3 mil declarações de óbito por Covid-19 que não foram inseridas no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep Gripe), local que contabiliza os casos graves da doença, incluindo o falecimento. O objetivo do levantamento é identificar a subnotificação de casos de morte por coronavírus e atualizar o sistema.
A superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, defende que ter esses dados atualizados é essencial para planejar o combate à pandemia, ainda mais no cenário atual, com possibilidade de uma terceira onda do vírus. “A gente está em um momento que, mais do que nunca, precisa-se de dados o mais fidedignos possível, para podermos fazer as análises necessárias para possíveis políticas de prevenção e controle, avaliação da situação epidemiológica. Estamos saindo de uma segunda onda e existe possibilidade de uma terceira onda”, declarou a gestora, e também epidemiologista, durante uma reunião on-line com representantes de municípios na tarde desta terça-feira (18).
De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, toda morte por Covid-19 deveria ser notificada no Sivep Gripe em até 48 horas. Esse sistema reúne uma série de informações sobre cada falecimento por coronavírus, como idade, sexo, doenças pré-existentes e data de primeiros sintomas. A própria unidade de saúde onde a pessoa morreu, independentemente de ser pública ou privada, deveria notificar diretamente no sistema ou a Secretaria Municipal de Saúde da cidade onde a unidade fica. No entanto, nem sempre essa notificação acontece.
Mais da metade das 1,3 mil declarações de óbitos por Covid-19 que não estão inseridas no Sivep Gripe são de pessoas que, segundo os documentos, residiam em Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia, cidades mais populosas do Estado. Essas cidades também concentram muitos hospitais que recebem pacientes com coronavírus de outros municípios. Nesses casos, a responsabilidade da notificação é do município onde a pessoa morreu, mas inserindo no sistema o local de residência da vítima da pandemia.
“Isso acaba sobrecarregando muito os grandes municípios, por exemplo Goiânia, porque morre mais gente aqui. (...). Já houve momentos em que dividimos as tarefas (de atualizar o sistema de óbitos). No Estado, a gente tenta ajudar os municípios, mas a responsabilidade é do local de ocorrência (do óbito)”, explica Flúvia.
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Itumbiara, na Região Sul de Goiás, Julice Freitas Barbosa, reforça que, no geral, o atraso da notificação da morte por coronavírus acontece porque a própria unidade onde a pessoa faleceu não fornece todos os dados necessários. No entanto, ela cita outras situações que podem provocar a não notificação das mortes, como a morte do paciente antes mesmo de ser internado, óbitos fora de Itumbiara de pessoas que moram no município e dificuldade de acesso a alguns dados necessários para inserir o caso no Sivep Gripe. “Coleta de exame, dados pessoais, resultado do exame. Às vezes o resultado sai após o óbito”, exemplifica.
Em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde orienta que as pessoas informem a prefeitura quando testarem positivo para coronavírus em farmácias e laboratórios particulares. É o que explica o diretor de Vigilância em Saúde da cidade, Leonardo Izidório. “Se você faz teste Covid-19 em uma farmácia de outra cidade e não notificar no sistema federal, eu não vou saber que você é trindadense”, exemplifica. Para evitar a subnotificação, Izidório diz que há um trabalho exaustivo de busca ativa por novos casos. Notificando mais registros, óbitos também acabam sendo mais notificados.
Flúvia Amorim explica que apesar das 1,3 mil declarações de óbitos não inseridas no sistema serem possíveis subnotificações, pode ser que alguns casos não sejam. Ela diz que a partir do levantamento da SES-GO, o município deve investigar e inserir no sistema os que realmente são coronavírus. Ela cita como exemplo um paciente que cometeu suicídio dentro de um hospital e que tinha exame positivo para coronavírus. Esse caso específico não entraria na estatística. Segundo Flúvia, a SES-GO tem feito esse levantamento desde o ano passado e repassado para os municípios.
Ainda de acordo com Flúvia, o porcentual de 1,3 mil sobre 16 mil não é tão alto. Segundo a atualização desses números não terá tanto impacto se diluído ao longo do ano. No entanto, se os novos óbitos se concentrarem mais em uma única semana ou mês, pode ter uma mudança na curva de óbitos.
Municípios dizem que farão atualização
A reportagem entrou em contato com municípios que se destacaram com mais casos de declarações de óbitos por coronavírus sem estarem inseridos no sistema de estatística nacional. No caso de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal (DF), a Secretaria Municipal de Saúde disse que tomou conhecimento do caso a partir do questionamento do POPULAR e se comprometeu a investigar todos os óbitos não notificados no sistema para conclusão dos casos.
Em nota, Luziânia informou que Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) não havia informado sobre o levantamento de óbitos fora do sistema. Ao receber o questionamento da reportagem, a SMS local entrou em contato com a SES-GO, que repassou a planilha com as informações dessas declarações de óbito. “Observa-se que dentre os 13 óbitos, a grande maioria ocorre em outras cidades, como Manaus, Brasília e outras cidades do Entorno e, portanto, as declarações de óbito não tramitaram no núcleo de vigilância epidemiológica do município”, diz trecho de nota de Luziânia.
Já a Vigilância Epidemiológica de Goiânia questionou o levantamento da SES-GO, dizendo que usa um cruzamento de dados que seria mais detalhado. Além disso, afirmou que erros de digitação prejudicariam essa análise, como quando pessoas do interior seriam colocadas como residentes em Goiânia na declaração de óbito.
Aparecida de Goiânia lembrou que a responsabilidade da inserção no sistema é da cidade onde ocorreu o óbito. A Secretaria Municipal de Saúde do município vizinho da capital diz que todas as mortes em Aparecida são notificadas, mas que caso os óbitos tenham ocorrido em outras cidades, cabe a elas o registro no sistema.
Santo Antônio do Descoberto explicou que ocorrem inconsistências durante a investigação e a confirmação das mortes, o que gera diferença até o fechamento de cada caso. A Secretaria de Saúde do Novo Gama não pode informar sobre o assunto por questão de contratempo, houve um princípio de rebelião no presídio na tarde desta terça-feira (18), e a recente troca do servidor responsável pelo sistema de notificação.
Porangatu informou que vai fazer uma busca ativa para identificar o que causou a diferença entre os dados. Mineiros diz que os casos não notificados são de pacientes atendidos em outras cidades. Rio Verde explicou que há casos de demora na notificação pela unidade de saúde, que é cobrada, e óbitos em outras cidades. Goianira, Jaraguá, Senador Canedo, Planaltina, Inhumas e Indiara não retornaram a reportagem até a publicação desta edição. A reportagem não conseguiu contato com Quirinópolis, Caldas Novas e Valparaíso.
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