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Esportes Promove aglomerações

Infectologistas temem maior contágio e novas cepas da Covid-19 com a Copa América em Goiânia

Médicos explicam que os hospitais estão lotados de pacientes com Covid-19

02/06/2021 16h44 Atualizada há 3 anos
Por: Santa Helena Agora Fonte: G1 Goiás
Reprodução/CBF TV
Reprodução/CBF TV

Infectologistas da linha de frente no combate à pandemia temem um maior contágio e o aparecimento de novas variantes do coronavírus com a realização da Copa América em Goiânia. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse que o torneio, no entanto, não receberá torcedores e vai obedecer regras sanitárias pedidas por ele à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), organizadora do evento (veja ao fim do texto as medidas que devem ser adotadas).

A médica Ana Carolina de Araújo Andrade disse, nesta quarta-feira (2), que ela e os colegas que atuam em hospitais públicos e privados estão desesperados com a confirmação do campeonato. Para ela, a realidade nas unidades médicas é de lotação nos leitos de UTIs e enfermarias e, paralelamente a isso, se observa uma rápida evolução da doença no quadro dos pacientes internados.

"Estamos nadando contra a maré. Está faltando medicações. É uma luta diária. Não é só a torcida, é uma equipe enorme. Claro que vai ter aglomeração entre os integrantes. A gente está desgastado com tanta tragédia, e surge um evento desse no meio disso tudo, a gente nem acredita. É um absurdo", lamenta a médica.

A taxa de ocupação dos hospitais estaduais, nesta quarta-feira, chegou a 89% nas UTIs. Em Goiânia, os leitos especiais estão com 75% de ocupação com pacientes com Covid-19. Segundo o boletim do governo, até esta quarta-feira, Goiás já ultrapassou 617 mil contaminados e 17,2 mil mortes pela doença, desde o começo da pandemia.

O ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, Luiz Eduardo Ramos, confirmou que Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Cuiabá (MT) e Goiânia (GO) receberão as partidas da competição.

Outra infectologista, Ludmila Passos Costa, entende que promover a competição durante a pandemia é imprudente por causa da circulação de pessoas de outros países. O aparecimento de novas variantes do vírus entre a população é um alerta como fonte de novas infecções.

"Os esforços têm que estar empenhados em promover a segurança e não a disseminação do vírus, além de trazer gente de circulação de outros países, que pode, eventualmente, trazer outras variantes do vírus", conclui a médica.

Em nota, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), disse que recebeu uma ligação de Caiado para consultá-lo sobre a realização do evento em Goiás. O prefeito disse que lembrou ao governador que os estádios são geridos pelo governo estadual, mas que, se estabelecidos protocolos sanitários seguros, é favorável à realização do torneio.

Tempo para a preparação

O evento deve começar em 10 dias. Assim, não há prazo suficiente para cumprir a quarentena exigida pelos protocolos de segurança nem tempo suficiente para quem for vacinado com 1 ou 2 doses estar completamente protegido, como afirmam os médicos.

A Copa América deve trazer a Goiânia atletas e dirigentes esportivos de 10 países. Ainda não se sabe quantos jogos devem ser disputados na capital nem a tabela dos times que se enfrentarão. Cada seleção deve contar com 65 integrantes, além das pessoas que vão trabalhar no torneio.

A realização do campeonato precisaria de mais tempo para as autoridades em saúde colocarem em prática medidas de contenção do vírus, na visão da infectologista Heloina Claret de Castro.

Ela sugere a vacinação de todos os participantes com pelo menos 15 dias de antecedência, testagem com RT-PCR nos integrantes das comissões antes, durante e depois do torneio.

"Considero que qualquer motivo para aglomerações neste momento deveria ser desestimulado, ainda mais num país com altas taxas de transmissão e hospitais abarrotados", conclui Heloina Claret.

O infectologista Boaventura Braz de Queiroz lembra que o risco de acelerar o processo de aumento das internações pode gerar mais tragédias familiares.

"Estamos, em junho, com taxas de ocupação de leitos de enfermarias e de UTIs com níveis preocupantes e vem um evento da magnitude de uma Copa América, que pode causar aumento nas taxas" , destaca o médico.

Regras de segurança

O governador Ronaldo Caiado disse, na quarta-feira (2), que impôs uma série de exigências para que Goiânia receba jogos da Copa América. Segundo ele, a Conmebol, organizadora do evento, aceitou os pedidos:

A primeira delas foi que todas as partidas e treinos não contassem com torcida e que fosse montado um sistema estilo bolha, que protegesse atletas, arbitragem, comissão técnica, imprensa e todos os envolvidos direta e indiretamente com o processo.

Que a Conmebol vacinasse todos os envolvidos na competição: atletas, arbitragem, comissão técnica, imprensa e funcionários envolvidos direta e indiretamente.

Além disso, o governo disse que não vai gastar nenhum centavo com a competição. Qualquer investimento de infraestrutura será por conta do organizador.

"As pessoas terão que cumprir toda aquela rotina: garantia absoluta de vacinação, todos os testes serem feitos. Todas as pessoas que desembarcam nos aeroportos internacionais do Brasil têm controle sanitário? Não. Os portos brasileiros têm? Não. Tanto é que a entrada do vírus foi pelo porto. O importante neste momento não é ideologizar. Vamos colocar primeiro como base: protocolo sanitário", defendeu o governador.

Inicialmente, os jogos serão realizados no Estádio Olímpico e o Serra Dourada servirá de suporte, como anunciou o governo estadual.

Críticas

Nas redes sociais do governo de Goiás, internautas também criticaram a decisão do governador de receber o evento durante a pandemia.

"Vacina sim, copa não", escreveu uma internauta.

"Copa só com 100% das pessoas vacinadas, caso contrário, não. Vamos ter mais consciência", escreveu outro seguidor.

Uma pessoa postou: "Mais vacinas e mais cepas vindo para Goiás? Inadmissível Copa América no Brasil e Goiânia ainda sediando".

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