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Entretenimento É o Amor

“A gente nasceu para fazer história”, diz Zezé Di Camargo em entrevista

O cantor ainda relembra a carreira e do saudoso pai, Francisco, que será homenageado em novo projeto

17/04/2021 16h27
Por: Santa Helena Agora Fonte: O Popular
Divulgação
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“É o amor/ Que mexe com minha cabeça e me deixa assim/ Que faz eu pensar em você e esquecer de mim/ Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver.” Difícil acreditar que alguém nunca tenha cantarolado no chuveiro esse refrão de É o Amor, da dupla goiana Zezé Di Camargo & Luciano? Os sertanejos estão celebrando 30 anos de carreira e de lançamento do clássico que entrou no primeiro disco dos artistas, em 19 de abril de 1991. Em celebração à data, Zezé Di Camargo concedeu uma entrevista exclusiva ao POPULAR em live e falou sobre a composição e as três décadas de sucesso. “Eu falo sempre que não dá para escrever a história da música sertaneja sem dedicar um capítulo de umas dez páginas para Zezé Di Camargo & Luciano”, disse. Na conversa, ele também falou sobre o novo projeto em homenagem ao seu pai, Seu Francisco, que morreu em novembro de 2020, e da retomada da gravação da série com a filha Wanessa. Confira.

O sucesso É o Amor completa 30 anos agora em abril. Zezé, gostaria que você relembrasse como foi o processo de composição do clássico que abriu o primeiro disco da dupla?

A música veio quase tudo de uma vez. Na época, em 1990, o Luciano já morava com a gente e tínhamos acabado de montar o repertório do primeiro disco e fomos ao estúdio gravar. No outro dia, fui levar uma fita para duas gravadoras (Copacabana e Continental) que investiam mais no sertanejo. Fiquei torcendo para que alguém se interessasse pelo trabalho. No dia seguinte, estava na rua e estava tocando muito a música Negue, na voz de Maria Bethânia. Achei a letra interessante e pensei em fazer uma também com uma palavra só. Fiquei com aquilo na cabeça e, em casa, compondo na madrugada, peguei o violão, sentei no chão escorado no sofá, com um caderno na mão e um gravador três em um. O Luciano deitou atrás de mim esperando eu fazer a letra. A primeira parte saiu em 30 minutos. Até aí, fui quase que psicografando. Travei na parte B da faixa. Terminei às 4 horas e gravei na fita em voz e violão.

Então, É o Amor não estava prevista para o disco de estreia de Zezé Di Camargo & Luciano?

Não. O problema é que o nosso álbum de estreia já estava com todas as canções definidas e naquela época você podia gravar até 34 minutos. E para incluir É o Amor estouraria esse limite. Na época, inventei uma história faraônica para o diretor da gravadora para que ele não tivesse a coragem de tirá-la do repertório porque eu não tinha força para impor a música no disco. Ele não teve coragem de tirar, mas tinha de abrir mão de outra. Para não sacrificar nenhuma, reduzi o tempo de algumas para caber.

Qual o peso de É o Amor na carreira de vocês?

Sem É o Amor talvez a gente não existisse. Na época, o Chitãozinho escutou depois de pouco tempo de lançada e pediu para regravar e eu não deixei. Os caras estavam fazendo sucesso há 30 anos e eu começando e brinquei que eles estavam querendo matar a gente no ninho. Lógico que não foi por maldade. Eu fiz É o Amor em setembro de 1990 e, quando eu vim para Goiás para passar o Natal com a minha família, consegui pegar duas fitas cassetes escondidas da gravadora com duas canções: Quem Sou Eu sem Ela e É o Amor. Levei para tocar clandestinamente nas rádios na programação da noite de Goiânia e estourou e começou a rodar o dia todo. A canção explodiu em todos os piratas de Goiás e, quando cheguei em São Paulo no outro dia, o dono da gravadora me chamou e disse que a minha música estava tocando em todos os cantos e me perguntou se eu sabia como isso tinha acontecido. Eu disse que não tinha ideia. O nosso disco estava previsto para julho de 1991 e como já estava nos piratas ele antecipou o lançamento para o dia 19 de abril. Quando foi em julho, data que seria lançado, já estávamos recebendo o disco de ouro, de mais de 100 mil cópias vendidas. A história é essa: eu levando para Goiânia a fita clandestinamente, meu pai levando na rádio e armando os pedidos.

A trajetória de sucesso de É o Amor, de alguma maneira, na época, pressionou a dupla para lançar novos hits, o que é algo bastante comum atualmente no mercado sertanejo?

Já na minha época existia isso da síndrome da primeira música e do compositor que tinha uma grande canção, mas não conseguia fazer sucesso. A Roberta Miranda e eu conseguimos quebrar isso de compor e virar sucesso. Depois, tinha a síndrome do artista de uma faixa só. O pessoal tinha uma estratégia que quando você lançava um grande sucesso vinha com uma que era prima daquela. Eu já pensava o contrário, porque achava que a cópia nunca faria a mesma trajetória que a original. Eu dei tanta sorte que fiz em seguida Coração Está em Pedaços. Foi um baita sucesso e vendeu mais que É o Amor, inclusive. Depois veio Eu Te Amo, tema da novela Perigosas Peruas, da Globo, na sequência Quem Sou Eu sem Ela. O disco vendeu mais de 1 milhão. No segundo, fiz Coração Está em Pedaços, Coração na Contramão, Muda de Vida, três porradas. O álbum vendeu 1,3 milhão. No terceiro, fiz Saudade Bandida e vendemos quase 2 milhões. A gente já fazia parte do seleto grupo de artistas que mais vendia no País. No quarto, veio Vem Cuidar de Mim, Toma Juízo. Os números foram estrondosos, em oito discos, foram quase 20 milhões de vendas. Era muito difícil segurar a gente.

O que vocês tinham planejado para celebrar os 30 anos de carreira da dupla e o que será possível fazer por conta da pandemia?

A gente tinha planejado um DVD que estava com data marcada e acabou sendo cancelado por conta da pandemia. Vários ingressos vendidos e devolvemos. Vamos marcar uma nova data. Tínhamos programado um show chamado de 30.30.30. Eu gosto de números. Veio na minha cabeça. Seriam 30 anos de sucesso, um show com 30 músicas e apenas 30 apresentações no Brasil. Havia 12 shows do projeto Amigos na programação. Por outro lado, esse momento nos obrigou a ter férias e tive a oportunidade de viver ao lado do meu pai nos últimos meses da vida dele, algo que não teria a chance de fazer sem o que está acontecendo. O Luciano teve a oportunidade de gravar um disco gospel que era uma vontade dele. Voltei para a minha origem e fazer o projeto Zezé Di Camargo Rústico na Fazenda, que queria há muito tempo, que é eu mesmo duetando em primeira e segunda voz. Gravei tudo aqui na fazenda. Ele será lançado até o final do ano e é uma homenagem ao seu Francisco.

E a série?

Estávamos gravando a todo vapor a série que deve se chamar É o Amor, com Zezé Di Camargo e Wanessa na Netflix, na fazenda. Aqui tinha se tornado o Projac com quatro carretas de equipamento e 80 pessoas. Aí veio o decreto para parar com tudo e a produção achou melhor desmontar tudo, o que aumentou em 30% o custo da produção. Tínhamos gravado apenas uma semana e estava programado um mês. Adiamos e estamos retornando no dia 5 de maio se tudo estiver melhor. O projeto é para ser lançado até o final do ano em 200 países. É uma história muito bonita que começa em Sítio Novo, onde eu cresci. Conta a relação do meu pai comigo e da minha filha comigo. Mostra esses dois mundos. Vai ficar lindo.

Você fez uma música em homenagem ao seu pai, tão importante na carreira de vocês. Batizada de Matuto, a canção tem participação também da dupla Lorena & Rafaela. Como foi o processo de composição e gravação?

Essa música eu fiz numa madrugada em São Paulo há dois anos. O engraçado é que eu gosto muito de fazenda e nunca tinha feito uma canção falando desse ambiente. Naquele momento, pensei no meu pai e na relação que ele tinha com o mato. Um dia, meu pai ouviu a dupla Lorena & Rafaela e ele achava bonito demais elas cantando, por ser raiz. Resolvi mandar a letra para elas e pedi para gravarem e mostrei para o meu pai e ele achou lindo. Eu ia fazer uma surpresa e trazer as meninas para tocar na fazenda para cantar para ele e revelaria que a letra era minha e era uma homenagem. Não deu tempo. Eu não consegui mostrar para ele.

Na carreira, são mais de 50 milhões de cópias vendidas, vários prêmios, Grammy Latino, tema de escola de samba, trilha sonora em diversas novelas da Globo. Como você avalia essa trajetória e o que vocês ainda almejam conquistar?

Eu falo sempre que não dá para escrever a história da música sertaneja sem dedicar um capítulo de umas dez páginas para Zezé Di Camargo & Luciano. Não dá para escrever a história da música popular brasileira sem dedicar um capítulo de pelo menos uma página para a gente. A gente foi muito importante dentro do sertanejo e tem uma grande relevância na MPB. Então, é difícil falar em música no Brasil sem lembrar de Zezé e Luciano. Você pode não gostar da minha voz, mas é inegável que fizemos uma história. São mais de 100 canções que foram hits. É o Amor tem 74 regravações, foi gravada em 14 idiomas e tem mais de 1 bilhão de visualizações no mundo. Eu me apego em números. Um nascem para fazer sucesso, a gente nasceu para fazer história.

Como está sua voz?

Eu tenho 58 anos e é claro que você não pode achar que tem uma condição física em todos os sentidos que tinha quando começou a fazer sucesso. Você tem de saber que seu limite é outro. Hoje não posso sair cantando como antes, preciso fazer um aquecimento vocal, o que não precisava. Eu tive um problema na corda vocal, operei sem necessidade, porque era cansaço, coisa psicológica. Pude comprovar aqui na fazenda, gravei um disco com um pé nas costas, posso fazer um show cantando por duas horas, mas estou pensando em levar a minha vida totalmente diferente do que antes. Jamais vou fazer 15 shows por mês, serão apenas oito. Quero prolongar mais minha vida física e qualidade vocal. Não vou cantar com a voz baleada. Cantar duas vezes por semana está maravilhoso. Chegou um momento para pensar mais na minha saúde, curtir minha família. É isso.

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