O perfil etário dos pacientes internados com Covid-19 em Goiás sofreu mudanças nos últimos meses. O destaque fica com a proporção de pessoas com mais de 60 anos hospitalizadas. Enquanto em agosto do ano passado, o pior mês da pandemia até então, eles representavam 62,91% dos internados, no pico de 2021 até então, em março, eles eram 54,13%, uma queda de 8 pontos porcentuais. Os números são da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO).
O número foi compensado com o crescimento na quantidade de pessoas mais jovens hospitalizadas, especialmente aquelas com idade entre 30 e 59 anos. Enquanto em agosto do ano passado elas representavam 34,17% dos internados, em março deste ano elas respondiam por 42,20%. Especialistas atribuem isto à circulação de variantes que têm afetado mais seriamente os mais novos.
Em novembro do ano passado, a proporção de pessoas internadas com idade entre 30 e 39 anos era de 5,88%. Em março deste ano, ela saltou para 8,56%.
O mesmo aconteceu com as pessoas com idade entre 40 e 49 anos e 50 e 59 anos, que tiveram um crescimento de 3 pontos porcentuais de novembro para cá. Ao mesmo tempo, a de pessoas com idade maior ou igual a 80 anos caiu de 16,99% para 19,75%. No mês de setembro de 2020, um dos piores da pandemia do ano passado, a proporção de internações nessa faixa etária chegou a 20,87%.
A principal explicação para a mudança no perfil etário na visão do infectologista Marcelo Daher, que atua em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), em Anápolis, é a circulação de variantes mais infecciosas do coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás. “Nós já notamos que ela (a variante) tem esse caráter mais agressivo neste grupo”, pontua o médico.
Vacinação também afeta variações
A vacinação das pessoas com mais de 60 anos, que teve início no fim de janeiro e está quase finalizada em Goiás, já surte efeitos na queda na proporção de idosos internados, de acordo com o titular da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Ismael Alexandrino.
Ele esclarece que a circulação da nova cepa, mais infecciosa - muitas vezes aliada ao descuido da população -, contribuiu para o aumento em números absolutos dos jovens doentes e consequentemente internados. Entretanto, o aumento de internações proporcionais entre jovens e a diminuição entre os idosos acontece por conta da vacinação.
“Ao imunizar os pacientes idosos, eles tendem a ter menos desenvolvimento da doença e isso contribui para aumentar o número de pessoas mais jovens doentes e diminuir os números absolutos e relativos de pessoas mais idosas”, aponta.
De acordo com o infectologista Marcelo Daher, a partir do mês que vem já se espera começar a perceber os efeitos positivos da vacinação. Ele diz que espera-se verificar uma queda nas taxas de internação, mortalidade e letalidade desse grupo. “Vamos ter uma boa quantidade dessas pessoas com as duas doses aplicadas e a expectativa é positiva. Com mais pessoas protegidas, menos casos vão acontecer.”
O infectologista aponta que a queda mais significativa deverá ser nos óbitos. “Precisamos lembrar que apesar da mudança no perfil etário de internações, esse grupo ainda é o que mais morre”, diz. Em Goiás, de acordo com o Painel da Covid-19, das 14,4 mil mortes, 9,9 são de idosos. Isso representa 70% do total de óbitos.
No Estado, já foram aplicadas 1,1 milhão de doses, sendo 707,2 mil como primeira dose, o que representa uma imunização em 11,36% da população goiana, e 303 mil como segunda dose, que corresponde a 4,32% da população do Estado. As pessoas vacinadas até o momento foram idosos, profissionais da saúde e das forças de segurança e salvamento. O próximo grupo a ser imunizado é o das pessoas com comorbidades. A intenção é que os mais de 600 milhões de goianos que pertencem a este grupo prioritário comecem a ser vacinados em maio.
Aceleração
A vacinação das pessoas mais jovens contra o coronavírus (Sars-CoV-2) precisa acontecer de maneira mais acelerada para que o grupo não se torne uma parcela de risco da doença e para evitar que novas variantes do vírus, mais infecciosas e agressivas, se desenvolvam. “Existe um risco de virar uma pandemia para as pessoas abaixo dos 60 anos. Ainda mais no ritmo que estamos vacinando”, diz o médico especialista em Saúde Pública da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sérgio Nakamura.
Daher aponta para o risco do surgimento de mais variantes. “Quanto maior a transmissão do vírus, mais adaptações ele vai sofrendo e maior o risco de desenvolvermos variantes mais agressivas que podem ser, inclusive, ser resistentes às vacinas, já que elas foram produzidas com as cepas que circulavam no início do ano passado. Elas não foram preparadas para as variantes que temos hoje em dia”, esclarece Daher.
O infectologista destaca ainda que a possibilidade do desenvolvimento de novas variantes e o crescimento de casos e internações entre os jovens, ressalta a necessidade de as pessoas continuarem mantendo as medidas de distanciamento e o uso de máscaras. “Essa é mais uma prova de que ainda precisamos nos cuidar.”
Alexandrino diz que concorda com as colocações dos especialistas. “Uma nova cepa pode não ser sensível ao estímulo da vacina para a produção de anticorpos. Então, urge essa vacinação acontecer o mais rápido possível”, enfatiza.
Entretanto, de acordo com ele, o governo estadual está de mãos atadas, dependendo totalmente do recebimento de doses por parte do governo federal. “É algo de que o Estado não tem praticamente nenhuma governança. Todos os processos de aquisição, tanto em Goiás quanto em outros Estados, não lograram êxito, nem mesmo aqueles mais entusiasmados.”
“Eu buscava um suspiro e não conseguia”
Mesmo com medo de se contaminar com a Covid-19, o jornalista e ator Cássio Neves, de 31 anos, nunca achou que caso ficasse doente desenvolveria um quadro com gravidade. “Sou jovem, sem fatores de risco e com um histórico familiar de pessoas que pegaram a doença e não a desenvolveram com gravidade”, relata.
Entretanto, desde que ficou doente no fim de fevereiro até a recuperação completa, Cássio levou cerca de 30 dias para se restabelecer. “Tive de fazer fisioterapia respiratória por cerca de 15 dias. Depois que vim para casa até levantar da cama era difícil”, aponta o jornalista.
Cássio passou a primeira semana de infecção praticamente assintomático - ele tinha apenas pigarros e coriza - e logo depois começou a ter fadiga. Após uma tomografia que constatou que estava com 50% de comprometimento pulmonar, ele foi internado. “Era horrível. Uma agonia. Eu buscava um suspiro e não conseguia.”
O jornalista precisou ficar hospitalizado durante um dos piores momentos da pandemia em Goiás, quando os leitos estavam escassos. “Quando cheguei ao hospital fiquei um dia inteiro sentado em uma poltrona esperando. Não havia leito para mim. Depois, eu consegui um.”
Ele relata que no início usou apenas um cateter para conseguir respirar, mas depois foi necessária a utilização de uma máscara especial para conseguir continuar respirando. “Durante minha internação, em todos os momentos eu lutava pela melhora, mas quando me faltava a respiração e eu não sabia de onde eu ia puxar aquele ar eu falava: é, agora é minha hora. A gente pensa que vai morrer mesmo.”
O maior medo de Cássio durante o tempo em que esteve infectado foi passar a doença para a avó, de 80 anos. “Antes do meu diagnóstico tive de levar ela para vacinar e ficamos bem próximos um do outro. Mesmo sempre sendo uma pessoa cuidadosa e tendo medo desse vírus, me senti culpado”, revela o jornalista. Ele acredita que o que impediu a avó e os outros familiares que moram com ele de se infectarem foi o cumprimento rigoroso dos protocolos sanitários e do isolamento social enquanto estava doente.
Já recuperado, Cássio afirma se sentir grato por não ter evoluído de maneira ainda mais grave. “Eu ressignifiquei minha vida. Meu objetivo é ser feliz todos os dias. Se tem uma coisa me ensinaram é que a gente não sabe o momento que vai partir.”
Depois de vencer a Covid-19, Cássio tem como sequela apenas um tremor na mão. “Já consultei um neurologista e não é nada demais”, diz. Entretanto, para conseguir se restabelecer, além da fisioterapia respiratória, ele teve de passar por um acompanhamento psicológico e contou também com o apoio da família e de amigos. “Eu me senti muito amado. Essa rede de apoio e de suporte foi essencial para mim”, revela.
Paciente de 44 anos tem alta do HMAP depois de duas entubações
Depois de passar 31 dias internado, Vanderson Carlos, de 44 anos, recebeu alta na última sexta-feira (23) do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP). Ele, que não possui nenhuma comorbidade, teve de enfrentar duas entubações por conta de complicações causadas pela Covid-19.
Vanderson, que é morador de Aparecida, testou positivo para a doença dia 15 de março e foi internado no dia 22. No mesmo dia precisou ser encaminhado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Depois de 14 dias e de uma melhora considerável, ele foi extubado, mas depois de horas precisou ser entubado novamente. Aos poucos, ele foi se recuperando e encaminhado para uma enfermaria. Ele precisou fazer uma traqueostomia para conseguir se recuperar completamente.
No momento, Vanderson que ainda está se recuperando já consegue fazer praticamente todas as atividades sozinho e tem apenas uma dificuldade para se locomover com a perna esquerda. Durante nove, dos 31 dias que ficou internado no HMAP, ele se dedicou ao fortalecimento e recuperação por meio de fisioterapia.
Na saída do hospital, Vanderson se despediu dos profissionais de saúde que cuidaram dele recebendo aplausos. Ele, que foi recebido por familiares, se emocionou durante o momento de ir embora para casa.
Vanderson conta que enfrentar a Covid-19, que se apresentou de uma maneira tão grave, foi muito complexo. “É um processo bem difícil. Precisamos tomar muito cuidado com a doença. No meu caso, eu estava bem e dois dias depois eu estava com o pulmão 70% comprometido. A grande lição que fica é: não desistir e se agarrar naquilo que te dá forças para lutar. Ainda existem profissionais da saúde que salvam vidas por amor.”
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