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Saúde Alerta

Situação da epidemia de Covid-19 é crítica em Itumbiara

Crise avança na cidade, que presencia números recordes de casos ativos, internações em UTI e mortes em abril, apesar de curvas estarem se estabilizando no Estado

21/04/2021 11h15 Atualizada há 4 anos
Por: Santa Helena Agora Fonte: O Popular
Douglas Schinatto/O Popular
Douglas Schinatto/O Popular

O número de mortes por Covid-19 em Itumbiara em abril já é maior do que o total registrado no mês de março inteiro. O boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) mostra que até o dia 20 já ocorreram pelo menos 45 óbitos, contra 42 no mês passado. Outros indicadores também seguem crescendo no município, como o de casos ativos e de pessoas internadas em leitos de UTI. Das cidades goianas com mais de 100 mil moradores é a que apresenta, em abril, a maior taxa de mortes pelo coronavírus por mil habitantes.

Com 105.809 habitantes, Itumbiara está inserida dentro da Região Sul, uma das 18 nas quais está dividido o Estado pela SES-GO no monitoramento do avanço da epidemia. É a segunda pior região entre as 15 que estão na situação de calamidade (cor vermelha) no mapa de calor do risco Covid-19, ficando atrás só da Entorno Sul, onde o número de mortes em abril também segue já próximo ao total registrado em março.

Além de Itumbiara, a Região Sul também abrange Morrinhos, Goiatuba e Bom Jesus de Goiás. A primeira cidade já registra em abril 13 mortes, o mesmo número de mortes que teve em março. A segunda tem uma taxa de óbitos por mil habitantes maior que Itumbiara tanto em março como em abril, mas uma população três vezes menor. E a última teve uma taxa por mil habitantes mais de três vezes maior que a média estadual em março, o pior mês da epidemia em Goiás.

Na primeira quinzena de abril, a prefeitura local permitiu o funcionamento de atividades comerciais e de serviços não-essenciais com horários mais restritos. Entretanto, ao contrário do decreto estadual, que estipula turnos diários de até 6 horas para atividades comerciais, em Itumbiara é de 14 a 15 horas, incluindo sábado e/ou domingo dependendo do tipo de estabelecimento. Bares e restaurantes, por exemplo, podiam funcionar das 6 às 21 horas.

Já a partir do dia 15, o comércio local teve o horário reduzido para 11 horas por dia, de segunda à sábado, mas os bares e restaurantes continuaram com o mesmo horário de funcionamento, assim como academias e templos religiosos.

Em sua página oficial e no perfil do Facebook, a prefeitura tem noticiado medidas para evitar aglomerações, como a interdição da pista na Avenida Beira Rio à noite, a proibição do consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos e ações de fiscalização para coibir festas clandestinas e reuniões em frente a distribuidoras de bebidas.

Itumbiara não tem leitos de UTI na rede municipal, dependendo do governo estadual para encaminhar os pacientes em estado mais grave. Boletim epidemiológico do município nesta segunda-feira (19) apresentou o segundo número mais alto de moradores em UTI: 26.

Kit Covid

Em um vídeo publicado no dia 18 de março, o prefeito Dione José de Araújo defende que as únicas respostas no momento para a epidemia é a vacinação e o isolamento, pede para as pessoas usarem máscaras e recomenda o distanciamento social, mas admite que moradores identificados com sintomas leves de Covid-19 são tratados com o kit Covid, formado por medicamentos sem comprovação científica de eficácia.

“Os pacientes de casos leves recebem o kit de tratamento precoce prescrito pelo médico que o atendeu e este paciente é monitorado em casa por uma equipe nossa”, explicou o prefeito no vídeo que foi compartilhado nas redes sociais da prefeitura. “Tratamento precoce” é o nome que os defensores do uso destes medicamentos dão para o kit Covid como forma de evitar o desgaste que o termo ganhou. Reportagem publicada pelo POPULAR no dia 14 mostrou que 88 municípios recebem verba do governo federal para entregar estes medicamentos aos pacientes.

O titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Itumbiara, Guilherme Davi da Silva, nega que haja um “kit” de medicamentos distribuído automaticamente e que a recomendação só é dada pelos médicos que avaliam ser necessária a medida, respeitando a autonomia de cada profissional de saúde.

Para o secretário, a tendência é que os números só comecem a cair nos próximos dias. Ele diz que com a queda na fila de pacientes por UTI na rede estadual as vagas estão surgindo com maior celeridade. Sobre o aumento do número de casos ativos, Silva argumenta que é porque a SMS tem feito mais testes e o elevado número de pessoas internadas se deve por causa do impacto dos feriados e do longo tempo de permanência de um paciente na UTI.

Ele diz que até semana passada os leitos em Itumbiara estavam 100% ocupados, mas agora este índice está em torno de 80% e que dependendo da unidade de saúde e do horário chega a 50% de ocupação.

O número de mortes de Itumbiara que consta no boletim estadual, entretanto, deve ser revisto para cima conforme o município atualizar os dados no sistema, o que demora até 15 dias para acontecer dependendo do tipo de informação que falta. Enquanto a SES-GO informa que a cidade tem 205 mortes, o boletim municipal fala em 241.

Considerando a taxa por mil habitantes, Itumbiara viu a situação melhorar em todos os 14 municípios com mais de 100 mil habitantes, enquanto foi o único que subiu. Em março, quando Goiás registrou mais de 3,4 mil mortes por Covid-19, Itumbiara ficou abaixo da média estadual e foi o sexto município com a maior taxa entre os 14 citados.

Questionado se a população tem colaborado com as medidas restritivas, Guilherme diz que é uma “relação complicada” e que a fiscalização tem feito muitos flagrantes de aglomeração. “A situação não está muito diferente do que ocorre nas outras cidades”, comentou.

Entidade culpa festas clandestinas

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Itumbiara (Acii), Lauro Ferrão, admite que as medidas adotadas pela prefeitura em relação aos horários de funcionamento das atividades não-essenciais foram “mais amenas” que as recomendadas pelo governo estadual, mas credita a situação da epidemia na cidade aos excessos cometidos por quem participa de festas clandestinas e à restrição de horários de atividades consideradas essenciais, como supermercados. Segundo ele, é muito comum a realização de aniversários em fazendas e chácaras na região. “Aí faz a festa e depois saem dez de lá contaminados.” Ferrão também cita que o fechamento de supermercados aos domingos, como ocorreu por um período, fez com que “o sábado ficasse uma bagunça”.

O presidente da Acii diz que o prefeito tem origem no comércio, sendo um dos fundadores da Câmara de Dirigentes Lojistas local e que, por isso, teria tido uma “atenção especial” ao funcionamento do comércio, mas não acha que isso tenha feito com que a epidemia continuasse avançando na cidade em abril, enquanto em muitos municípios os indicadores começaram a se estabilizar já na primeira quinzena.
A coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Itumbiara, Julice de Freitas Barbosa, disse que os números já começaram a cair na cidade e cita como exemplo o de casos novos por dia, que até semana passada girava em torno de 60 a 80 e agora está em 40, 30. 

O número alto de casos ativos, segundo Julice, se deve ao fato de a SMS ficar mais atenta ao acompanhamento dos pacientes confirmados e por isso demorar mais até considerar oficialmente uma recuperação. “Abril começou igual a março, mas com as medidas restritivas agora estamos sentindo a redução”, disse. Ainda segundo ela, a vacinação de idosos também já está refletindo no porcentual de óbitos nesta faixa etária. 

Procurado, o prefeito Dione José de Araújo, diz também que as informações que tem são de queda nos indicadores e cita como exemplo que na semana passada teve dia com até sete mortes, enquanto nesta terça-feira (20) foram três por Covid-19.

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