Goiás teve a quinta maior letalidade por coronavírus (Sars-CoV-2) no mês de abril e começo de maio, entre as unidades da federação, segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). A letalidade no território goiano neste período foi de 4,7%, ficando atrás apenas de Distrito Federal, São Paulo, Pará e Rio de Janeiro. Isso significa que de cada 1 mil pessoas contaminadas pela doença no Estado, 47 faleceram. Em períodos anteriores a letalidade no Estado era de menos de 2%, sendo que o máximo em 2020 foi de 3% em outubro.
O gráfico que mostra Goiás na quinta posição foi apresentado em reunião com representantes da SES-GO e de secretarias municipais, nesta terça-feira (18). Durante a videoconferência, a coordenadora do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (Cievs) da SES-GO Erika Dantas disse que esses números geram preocupação. A superintendente de Vigilância em Saúde do Estado, Flúvia Amorim, alega que esses dados são imprecisos, porque há muito atraso na notificação de casos confirmados de Covid-19, o que acabaria superdimensionando os números. No entanto, ela reconhece que a letalidade de março, calculada com dados já consolidados, teve um aumento expressivo e que os motivos para isso estão sendo investigados.
Para se ter uma noção, a letalidade por mês em Goiás não havia passado de 3%, ficando na maior parte dos meses abaixo de 2%. No entanto, a letalidade no mês de março saltou para 4,3% em março e para 5,7% em abril, considerando os dados notificados até o momento. Ou seja, mesmo desconsiderando abril por causa do atraso nas estatísticas, houve um aumento de 2,4 pontos porcentuais no mês de março, quando se compara com fevereiro, quando a letalidade era de 1,9% (veja quadro).
Isso significa que, em média, de cada 1 mil contaminados pela Covid-19 em fevereiro, 19 morreram. Já no mês de março, de cada 1 mil que testaram positivo, 43 faleceram, 24 a mais que no período anterior. Março foi o pior mês da pandemia até agora em Goiás, com 3,7 mil mortos por coronavírus, uma média diária de mais de 100.
Foi em março que os números de outros índices da pandemia também chegaram ao pico no Estado. A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com coronavírus chegou próxima a 100% e a fila para esse tipo de internação passou de 400. As mortes à espera de UTI Covid-19 foram de 81 em fevereiro para mais de 450 em março.
Flúvia diz que a saturação do sistema de saúde é uma das variáveis que pode interferir na letalidade, mas ela considera que também existem outros fatores, como o perfil da população, se há mais habitantes mais velhos, se houve menos testagem. “Tem uma série de fatores que envolvem essa letalidade. Não consigo afirmar quais seriam os de maior impacto. A gente vai ter de estudar para saber.”
O professor e pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG, João Bosco Siqueira, cita como possíveis motivos para um aumento de letalidade, o manejo inadequado e a falta de acesso a leitos. No entanto, ele ressalta que não sabe se essas possibilidades são reais e defende que não é possível afirmar corretamente em uma investigação.
Sobre a comparação entre as unidades da federação, Bosco diz que mais testagem vai gerar um cálculo de letalidade mais baixa. “Se um Estado ofertou mais testes, por exemplo, ele vai ter mais casos confirmados”, explica. O cálculo da letalidade é a porcentagem de óbitos entre os casos confirmados, na grande maior parte por teste laboratorial. Uma minoria dos casos é confirmada por critérios epidemiológicos, que é quando, por exemplo, uma pessoa tem sintomas da doença na mesma época em que outra pessoa, que mora na mesma residência, testa positivo.
Em entrevista para o POPULAR no início de maio, o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, avaliou que o número de casos no mês de março aumentou de forma muito rápida, o que não teria sido acompanhado na mesma velocidade pela testagem. Por isso, ele avalia que a letalidade aumentou, já que menos casos teriam sido registrados do que a realidade.
Estudo da Fiocruz divulgado no fim de abril mostrou que houve aumento da letalidade da Covid-19 no Brasil de 3% no mês de março para 4,4% em abril. No fim de 2020 era por volta de 2%.
Cosems sugere ajuda do Cremego para reduzir subnotificação
A falta de notificação de mortes por coronavírus foi um dos temas da reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), instância local do Sistema Único de Saúde (SUS), nesta quinta-feira (20). Durante a videoconferência, o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Goiás (Cosems-GO) sugeriu uma reunião com o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) para ajudar na diminuição deste tipo de subnotificação, já que médicos são responsáveis por dar declarações de óbito, que por sua vez entram na estatística.
Reportagens do POPULAR das duas últimas semanas mostraram que um levantamento da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) identificou 1,3 mil declarações de óbitos por coronavírus, de 2021, que não estão inseridas no sistema federal que reúne dados de hospitalizações e mortes. A responsabilidade de notificar esses falecimentos é do município e do hospital onde o paciente morreu.
A subsecretária de Saúde, Luciana Vieira, apontou durante a reunião da CIB, que o número de possíveis óbitos subnotificados é de quase 10% do total de mortes confirmadas até o momento. “É um porcentual bem significativo, algo que a gente precisa ficar atento. Goiás tem um número de óbitos por habitantes que deixa a gente em alerta e quanto melhor o nosso sistema de vigilância, mais a gente acerta nas ações. (...). É mais uma (força tarefa) que precisa entrar nas nossas prioridades, nessa parceria com a regional de saúde e municípios”, avaliou.
Já a assessora técnica do Cosems-GO, Carla Guimarães, defendeu que o levantamento da SES-GO de possíveis subnotificações deve ser apresentado para o Cremego, para que a entidade faça um alerta aos profissionais médicos. “Acho que esse alerta é muito importante.”
Luciana Vieira da SES-GO concordou com a ideia e disse que deve falar com o Cremego sobre o assunto. Em reportagem desta quinta-feira (20) do POPULAR, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia disse que boa parte dos hospitais não notifica casos e óbitos em tempo hábil, e que esses hospitais têm sido cobrados.
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