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Polícia ‘Contava tudo’

Paciente denuncia que suspeita de se passar por psicóloga compartilhava confissões durante sessões de terapia

Vítimas relatam ainda ameaças e problemas de saúde após uso de medicamentos receitados por Irene Costa Cardoso Rodrigues, investigada pela polícia por exercício irregular da profissão e estelionato, em Anápolis

12/05/2021 16h49
Por: Santa Helena Agora Fonte: G1 Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Reprodução/TV Anhanguera

Uma paciente, que não quis se identificar, denuncia que teve suas confissões compartilhadas com outras pessoas durante sessões de terapia realizadas por Irene Costa Cardoso Rodrigues, conhecida como doutora Irene Fiod. Ela é investigada pela Polícia Civil por suspeita de se passar por psicóloga para aplicar golpes em pacientes, em Anápolis, a 55 km de Goiânia.

“Eu sabia de tudo que acontecia na vida das minhas amigas por ela. Coisas que as minhas amigas não me contavam, eu sabia. E as minhas amigas sabiam das minhas coisas por ela também. Tudo o que eu falava para ela, nada era sigiloso. Ela sempre contava tudo”, afirmou.

A defesa de Irene nega as acusações. “Essas denúncias feitas contra a mesma são por circunstâncias pessoais. A mesma é uma profissional respeitada no ramo, não só aqui na cidade de Anápolis, mas em todo o estado de Goiás pelo profissionalismo e pela ética com que ela pratica sua atividade profissional”, afirmou o advogado Éder Martins.

Uma colega de trabalho, que também não quis se identificar, afirma que Irene não tinha compromisso com a ética profissional. “Por diversas vezes, ela deixava o paciente na sala para conversar com os colegas. Ela invadia nossas salas e começava a falar. Era muito invasiva, desrespeitosa”, relatou.

Exercício irregular da profissão

O Conselho Regional de Psicologia de Goiás afirmou que Irene não possui registro profissional no Cadastro Nacional de Psicólogos e que, em casos de denúncias de exercício irregular da profissão, o órgão apenas acompanha e colabora com as investigações, que ficam a cargo da Polícia Civil.

Ao ser questionado sobre Irene não ter registro profissional no Cadastro Nacional de Psicólogos, o advogado afirmou que a cliente nunca disse aos pacientes que é psicóloga e sim que é psicanalista, formada em pedagogia.

Já a Polícia Civil informou, por meio de nota, que foi instaurado inquérito para apurar os crimes de estelionato e exercício irregular da profissão. “Dezenas de vítimas foram ouvidas. A investigada deve prestar declarações ainda nesta semana e o inquérito deve ser finalizado em breve”.

Denúncias

De acordo com um documento obtido pela TV Anhanguera e endereçado ao Conselho Regional de Psicologia, oito pessoas denunciam Irene por usar, de maneira falsa, os títulos de psicanalista e psicóloga, pós-graduada em Neurologia e membro do Conselho de Educação do Estado de Goiás. Ao longo do texto, uma das vítimas relata:

“Ela dizia que o tratamento era eterno, para o resto da vida, e que a cura prometida para todos os problemas só seria possível no divã [onde os psicanalistas desenvolvem suas atividades] e se nunca parasse o tratamento”, escreveu.

À TV Anhanguera, o Conselho Estadual de Educação disse que Irene nunca fez parte da instituição.

No mesmo documento há relatos de pacientes que afirmaram terem sido coagidos a pegarem dinheiro emprestado para custear o tratamento com a investigada, como é o caso da servidora pública Brena Aquino Rodrigues.

“Eu estou devendo R$ 150 mil. Metade do meu salário vai para pagar um tratamento que eu paguei para receber e não recebi”, afirmou.

O terapeuta holístico Gustavo Carvalho, pai de um dos pacientes atendidos por Irene Fiod, conta que a criança teve diversas reações depois que tomou um medicamento prescrito pela investigada.

"Ela o diagnosticou com distúrbios mentais e passou um medicamento. Ele tomava o remédio de manhã e antes de ir para escola. Com isso, ele foi parando de comer. Ele, com 6 anos de idade, teve uma desidratação profunda e as vistas ficaram embaçadas”, afirmou.

Ameaças

O terapeuta afirma ainda que, depois que denunciou Irene, sofreu diversas ameaças por mensagens de texto por parte da investigada. Segundo ele, ela afirmou que se o paciente desse continuidade nas denúncias iria contar tudo que sabe sobre sua vida.

“Um botão apertado destrói sua casa e não é do meu perfil agir assim (...). Gustavo, como te falei: se sair qualquer coisa com meu nome, a consequência para você pode ser muito grave. Gustavo, o que tenho em mãos a seu respeito é muito sério, dá um livro”, escreveu.

No mesmo documento onde as vítimas registraram as denúncias, uma delas afirma que sofreu ameaças caso parasse com o tratamento. “Ela induzia os pacientes a aumentarem o número de sessões sob ameaça de piorar o quadro desses pacientes. Pressionando e induzindo esses pacientes a fazerem penhoras de carro, empréstimos com agiotas".

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