O desemprego bateu recorde no primeiro trimestre deste ano em Goiás. É o que mostra a Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE. A taxa de desocupação chegou a 13,5%, a maior de todos os trimestres da série histórica, iniciada em 2012 pelo Instituto. Representa aumento de 2,2 pontos porcentuais em relação ao mesmo período de 2020 (janeiro a março), quando a pandemia de Covid-19 começou a impactar a economia. No Brasil, também foi a mais alta já registrada, 14,7%.
A quantidade de pessoas no Estado que procuraram e não encontraram emprego chegou a 485 mil no período. A estimativa considera aqueles que fizeram algo para encontrar uma vaga, como entregar currículo, ir a uma entrevista, fazer um curso. Junto com os desalentados (92 mil), o número dos excluídos do mercado chega a 577 mil. “O número é próximo ao de habitantes de Aparecida de Goiânia”, compara o chefe do IBGE em Goiás, Edson Roberto Vieira.
Há seis meses, Ana Paula Ferreira, de 23 anos, busca um trabalho. Ela faz parte do grupo que tem se esforçado para conseguir uma recolocação com carteira assinada, só que não obtém êxito. “Trabalhava como babá e como atendente de restaurante, mas ele fechou e tudo ficou mais difícil. Tranquei meu curso de Administração e voltei pra casa da minha mãe em Nova Roma.” Antes da pandemia ela encontrava com mais facilidade, em 15 dias, como relata, outras opções de emprego na capital, para onde pretende voltar assim que conseguir uma vaga.
“O dinheiro não dá mais para nada, estou procurando emprego para ajudar minha mãe em casa. Não terminei os estudos, tenho 17 anos, mas queria muito um emprego”, desabafa Maria Luísa Ribeiro Machado de Jesus. Outra jovem mulher que tem experiência como babá e faz parte do perfil que tem sido bastante atingido pela crise.
“Há um movimento muito desigual no mercado brasileiro, que discrimina gênero, raça e nível de instrução, o que se intensifica na pandemia. É muito mais difícil para mulheres do que para homens, para pretos do que para brancos. Para quem tem ensino superior completo a taxa de desemprego também é menor. Isso tem feito com que pessoas mais vulneráveis sofram mais para recuperar a renda”, ressalta Edson.
De acordo com a Pnad Contínua, empregados do setor privado foram os que mais perderam postos de trabalho, 39 mil a menos – sendo mil apenas dos domésticos – se comparado com o último trimestre de 2020. No setor público, a queda foi de mil. Também houve perda de 2 mil empregadores. A única categoria em alta é a dos que trabalham por conta própria com CNPJ, que teve acréscimo de 19 mil pessoas.
Com a desocupação mais de três vezes superior ao que se teve em 2013, o primeiro trimestre do ano traz efeito sazonal, já que é quando se encerram os contratos de fim de ano. Porém, os desalentados estão aumentando e a taxa é preocupante. A força de trabalho potencial, que inclui esse grupo juntamente com os indisponíveis, cresceu 11,1% se comparado ao mesmo período do ano passado.
Outro dado que chama atenção é para o número de subocupados, aqueles que trabalham menos de 40 horas por semana e têm interesse em trabalhar mais. Cresceu 23% em relação ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2020). São 157 mil que buscam, apesar de inseridas no mercado, ampliar o número de horas que trabalham.
Quando reunimos os desempregados, subocupados e desalentados, temos 851 mil trabalhadores em Goiás que compõem a força de trabalho mas não conseguem melhorar os ganhos na formalidade. Representam 22,4% do total. “Sem dúvida há reflexo da pandemia. Entre os setores que mais sofrem, os maiores porcentuais são de alojamento e alimentação, setor que não se recuperou e está longe ainda. O serviço doméstico e o comércio também se destacam e empregam muitas pessoas”, lembra Edson.
Do fim de 2020 para o primeiro trimestre de 2021, nenhuma atividade teve variação positiva. No serviço doméstico houve queda de 22,2% no número de pessoas ocupadas, a indústria (15,4%) e comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (7%) também estão entre os destaques.
“Mas a situação não é uniforme, a recuperação é diferenciada para indústria e comércio e mais difícil para os serviços.”
Enquanto o trabalho formal recua, a informalidade permanece estável. Segundo o IBGE, a taxa passou de 40,9% para 40,3%, 1,248 milhão estão na situação de trabalhar sem carteira assinada, sem CNPJ ou como familiar auxiliar. “Isso mostra a fraqueza da atividade econômica de uma forma geral.” Sobre o futuro, o chefe do IBGE acredita que depende do ritmo da vacinação no Estado.
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