Ao menos 1,7 mil pessoas aparecem no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) tendo recebido em Goiás duas doses de vacinas diferentes contra a Covid-19. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) informa já ter identificado algumas, mas que também ocorreram erros nos registros no banco de dados, que são feitos diretamente pelas secretarias de saúde de cada cidade. A maior parte dos casos é de Goiânia.
Um dos casos, por exemplo, é o de um médico de 50 anos que aparece tendo recebido a AstraZeneca no dia 4 de fevereiro e a Coronavac no dia 26. Há também uma motorista de ambulância de 42 anos residente em Jaraguá que foi vacinada em Goiânia, primeiro com uma dose da AstraZeneca no dia 27 de janeiro e depois com uma Coronavac no dia 22 de abril. Nos dois casos, entretanto, a data da importação das primeiras doses é mais recente que a da aplicação no cidadão, o que levanta a suspeita de erro no registro.
Há uma semana, a imprensa nacional noticiou que o sistema de informações do ministério apontava mais de 16,5 mil brasileiros tendo recebido doses trocadas da vacina. A maioria teria recebido primeiro a AstraZeneca e depois a Coronavac. Apesar de serem minoria, houve também quem recebeu primeiro a Coronavac, como uma recepcionista de uma unidade de saúde de 24 anos que aparece no sistema tendo recebido a primeira dose no dia 24 de fevereiro e a outra no dia 14 de abril.
A superintendente da Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, diz que é difícil saber quantas pessoas realmente receberam doses trocadas da vacina e que uma equipe da secretaria faz a investigação caso a caso. Não se sabe ainda se estas pessoas estão ou não imunizadas e a orientação é para que aguardem um posicionamento do Ministério da Saúde, que ainda analisa a situação. De acordo com Flúvia, estas pessoas não devem tomar uma terceira dose de vacina.
A chefe da Vigilância em Saúde estadual diz que não há até o momento nenhuma evidência ou caso comprovado de efeitos colaterais em quem tomou vacinas diferentes, mas que estudos ainda estão sendo realizados. Entretanto, até o momento, a SES-GO não foi notificada de nenhuma ocorrência de pessoa que tenha passado mal por isso.
A quarta edição do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, publicada no dia 15 de fevereiro pelo Ministério da Saúde, diz na página 24 que os indivíduos que receberiam vacinas distintas “não poderão ser considerados como devidamente imunizados”, mas que “neste momento” não se recomenda a administração de doses adicionais.
Outro problema que consta no banco de dados do Ministério da Saúde é que 15,3 mil pessoas aparecem tendo recebido de três a cinco doses de vacina em Goiás. A SES-GO acredita que a maioria se trata de erro no registro, o que é piorado pelo fato de até hoje o Ministério da Saúde não permitir que as informações sejam corrigidas.
Entretanto, a secretaria não descarta a hipótese de fraudes e de pessoas que tenham realmente recebido três doses da vacina. Até o momento, o governo não foi notificado de nenhum caso assim envolvendo algum vacinado.
Na segunda-feira (26), aparecia no SI-PNI que 13.584 pessoas foram imunizadas três vezes em Goiás, outras 1.696 quatro vezes e 40 delas cinco vezes.
Entre estes casos, estão mais de 2 mil inclusões equivocadas admitidas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia no começo de março, envolvendo doses da AstraZeneca. O problema foi detectado depois que profissionais da saúde entraram no aplicativo Conecta SUS e notaram que constava a aplicação de três imunizantes neles.
Além deste caso, porém, a SES-GO não descarta que outros registros podem ser indícios de fraudes, uma vez que serviria para esconder no sistema uma dose desviada. A secretaria garante que todos os casos estão sendo verificados.
Para Flúvia, a demora dos municípios em inserir no sistema os registros das doses aplicadas pode colaborar para este problema, principalmente quando a pessoa recebe a segunda dose em uma cidade diferente ou em uma cidade na qual ela não é residente.
Cruzamento de dados feito pelo POPULAR mostra que uma a cada cinco doses aplicadas de vacina em Goiás são em pessoas que não residem na cidade em que houve a imunização e que 6% das aplicações foram em pessoas de outros Estados. Além disso, de cada três pessoas de outros Estados que foram imunizadas em Goiás, uma é do Distrito Federal.
Flúvia reconhece que os erros nos registros, os atrasos e a falta de acesso a estes dados na hora em que a vacinação ocorre agravam ainda mais a situação.
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