A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) afirma ter desenvolvido um produto capaz de aumentar a resistência de algumas espécies vegetais à seca. Segundo o presidente da empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o engenheiro agrônomo Celso Moretti, o bioproduto, batizado com o nome Auras, é fruto de mais de uma década de pesquisas que técnicos da estatal e de uma empresa privada parceira realizaram com o mandacaru, um cacto encontrado no semiárido brasileiro.
“Observamos a relação entre a planta do mandacaru e bactérias existentes no solo que a auxiliam [a espécie vegetal] a conviver com a seca”, explicou Moretti, hoje (27), referindo-se a Bacillus aryabhattai, micro-organismo que há anos vem sendo estudado por pesquisadores de diferentes países interessados na capacidade destas bactérias sobreviverem em climas secos e na hipótese delas contribuírem para ampliar a resiliência ao estresse hídrico das plantas a que se associam.
“Selecionamos estas bactérias e estamos colocando este produto no mercado para ajudar os produtores, começando pela cadeia produtiva do milho”, anunciou Moretti, ao apresentar a jornalistas a mais recente edição do Balanço Social da Embrapa. Segundo ele, este é o primeiro bioproduto registrado no Brasil com o propósito de aumentar a resistência de espécies vegetais à seca.
“Não tenho dúvidas de que esta tecnologia terá um grande sucesso nas regiões de baixa disponibilidade de água no Brasil”, acrescentou Moretti, lembrando que, só no semiárido, há cerca de 100 milhões de hectares de caatinga onde o plantio de algumas espécies poderão ser beneficiadas pelo Auras, favorecendo lavouras em quase 1,3 mil cidades.
“Pretendemos que este bioinsumo ajude os produtores que vivem no semiárido. Porque, como eu sempre digo, não se combate a seca. Seria como tentar combater a neve. Temos regiões que, por uma série de questões, têm períodos de seca. Então, precisamos usar a inteligência e conviver com a seca”.
Além de anunciar o lançamento do produto para breve, Moretti aproveitou a divulgação do balanço social da empresa para informar que a Embrapa também vai disponibilizar aos produtores uma nova variedade transgênica de algodão que, segundo ele, alia alta produtividade a maior resistência a doenças, sendo indicada sobretudo para o plantio em áreas comerciais de elevada produtividade do Cerrado. A variedade estará disponível a partir da próxima safra de algodão.
Outro produto desenvolvido com a participação da Embrapa é uma variedade de soja convencional, anunciada como sendo resistente à ferrugem asiática e tolerante a percevejos. De acordo com Moretti, o grão pode ser semeado antecipadamente, viabilizando sua inserção em sistemas de sucessão e rotação com outras culturas.
“Acreditamos que esta soja vai atrair o interesse dos produtores, principalmente daqueles que trabalham com soja orgânica”, disse o presidente da Embrapa, afirmando que, embora, hoje, no Brasil, a maior parte da área plantada com soja esteja ocupada por variedades transgênicas, “há um espaço interessante para a soja convencional”, já que vários países e toda a União Europeia proíbem a importação de soja transgênica.
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