O menino Henry Borel, 4, morto no dia 8 de março, sofreu 23 lesões pelo corpo, de acordo com os laudos do IML (Instituto Médico Legal) e da reprodução simulada, que o UOL teve acesso.
Peritos descartaram a possibilidade de acidente doméstico com a suposta queda de Henry da cama, versão contada pelo vereador Dr. Jairinho e a mãe do menino, Monique Medeiros. Segundo o documento, todas as lesões foram "produzidas mediante ação violenta (homicídio)" e aconteceram entre 23h30min e 03h30min.
No documento, de 36 páginas e assinado por oito peritos criminais, são citadas as 23 lesões encontradas no corpo de Henry, entre elas: escoriações, hematomas, hemorragias em três partes da cabeça, infiltrações, contusões nos rins, pulmão e laceração no fígado. A causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente, como apontado pelo laudo da necropsia.
O laudo da reconstituição, realizada no dia 1º de abril sem a presença do casal, mostra que as marcas constatadas no corpo de Henry são sugestivas de várias "ações contundentes e diversos graus de energia, sendo que as lesões intra-abdominais foram de alta energia".
Além disso, foram indicadas hemorragias em três partes da cabeça do menino e todas elas correspondem a ações contundentes distintas, ou seja, "uma queda de altura não produziria tais lesões. A quantidade de lesões externas não pode ser proveniente de uma queda livre", como afirmada pelo casal.
Para Marcos Camargo, presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais), essas ações contundentes seriam pancadas. Algumas das marcas podem decorrer da tentativa de defesa da criança às agressões ou de quedas do menino decorrentes da ação violenta contra ele.
"Aparentemente não há uma indicação clara de que tenha sido empregado algum objeto para isso [as lesões], o que leva a crer que tenha sido descartada a hipótese de queda, produzido por ação de alguém que usou as próprias mãos ou partes do próprio corpo, ou seja, socos e chutes [para agredir Henry", explicou Camargo.
O documento ainda resgatou imagens do elevador do condomínio do casal que registraram o momento em que Henry foi socorrido pela mãe e o padrasto. A análise do vídeo mostra que Henry, que estava no colo de Monique, se encontrava extremamente pálido, devido ao choque hipovolêmico —que é a grande perda de líquido e sangue—, e que o lábio estava cianótico, ou seja, de coloração azulada pela falta de oxigênio.
A filmagem foi iniciada às 04h09 da manhã e os peritos concluíram que o óbito teria ocorrido há pouco tempo em razão das características físicas de Henry visualizadas nas imagens. Segundo o documento, todas as lesões foram produzidas mediante ação violenta e aconteceram entre 23h30min e 03h30min. O laudo aponta que o menino já estava sem vida antes mesmo de chegar ao hospital.
A análise da perícia corrobora com o depoimento da equipe médica que atendeu Henry no qual as três pediatras que prestaram atendimento ao menino disseram que ele já chegou sem vida no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na madrugada do dia 8 de março. As profissionais da saúde também afirmaram que a criança chegou na unidade de saúde com lesões, assim como indicado no laudo da necropsia.
"Pelo número de lesões, podemos dizer que houve uma ação contínua de pancadas. De certa forma, não estaria errado dizer que houve em certo espancamento. Pelos detalhes apresentados, fica evidente que é que não foi uma única ação [que provocou todas as lesões]. Foram várias [ações contra o Henry], as quais atingiram a parte abdominal, a cabeça e a lateral direita do menino, eventualmente um chute que fez com que ele caísse ou várias ações nessa região", diz Camargo.
Monique Medeiros e Jairinho foram presos temporariamente na última quinta-feira (8) e estão sendo investigados por homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
A mãe de Henry foi encaminhada ao Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói, e o vereador Jairinho foi levado para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó. Os dois se queixaram de dores nos últimos dias e Monique foi internada na madrugada desta segunda por suspeita de infecção urinária no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho de Castro, na zona oeste do Rio.
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